Após duas décadas de navegação pelos mares turbulentos da vingança e da redenção, Vinland Saga ancorou seu navio no dia 25 de julho de 2024, com a publicação do capítulo 220 na revista Monthly Afternoon. Criada pelo mestre Makoto Yukimura, essa obra que começou como uma saga viking brutal, movida a sangue e fúria, se transformou em uma das narrativas mais profundas e filosóficas da atualidade. E, pessoalmente, digo que sentirei falta das reflexões existenciais embaladas em lutas épicas que só Vinland Saga consegue entregar.

Um Final Sem Glórias, Mas Cheio de Significado

Esqueça finais explosivos e reviravoltas mirabolantes! O encerramento de Vinland Saga não entrega um final épico no sentido tradicional, mas sim um adeus realista, silencioso e incrivelmente carregado de significado. É um final agridoce, que nos faz refletir sobre a natureza da paz, da violência e da redenção. Particularmente, achei a escolha corajosa e muito mais impactante do que qualquer batalha final mirabolante.

A Utopia Despedaçada e a Esperança Que Renasce

Desde a infância banhada em ódio até a renúncia consciente à violência, a jornada de Thorfinn é uma das transformações mais impactantes já vistas nos mangás. No último capítulo, somos confrontados com o fracasso da utopia sonhada em Vinland, a terra prometida onde não haveria guerra, escravidão ou dor. O conflito entre os colonos e os nativos explode em uma tragédia, mesmo após todos os esforços de Thorfinn pela paz.

Einar, o amigo leal e a voz da consciência moral da obra, perde a vida. A maioria dos colonos retorna à Europa, desiludidos ou derrotados. Mas nem tudo está perdido: Plmk, um dos jovens Lnu, cultiva o trigo que Thorfinn lhe deu. Essa cena, aparentemente simples, é uma metáfora poderosa: mesmo quando grandes sonhos desmoronam, pequenos gestos de confiança e esperança podem florescer. É como a mensagem final de “Neon Genesis Evangelion”, onde a esperança reside na capacidade de seguir em frente, mesmo após o apocalipse.

O Retorno ao Lar e a Paz Interior

O capítulo final nos presenteia com um momento de pura emoção: Thorfinn reencontra sua família, sua esposa Gudrid, seu filho Karli e o recém-nascido Snorri. A cena é banhada em serenidade, enquanto Thorfinn embala seu filho nos braços, com um olhar que carrega alívio e tristeza. Ele finalmente compreende que a paz não está em uma terra distante ou em uma grande conquista, mas sim na vida que ele construiu com aqueles que ama.

Não há glória, apenas resignação. Thorfinn entende que seu papel é estar presente, como pai, marido e homem transformado. Sua famosa frase “Eu não tenho inimigos” ganha uma nova camada de significado, uma maturidade que ele conquistou através da dor, do sacrifício e do crescimento pessoal. É uma jornada similar à de Kenshin Himura em “Rurouni Kenshin”, que busca a redenção após uma vida de violência.

A Busca Contínua pela Paz

No fim da jornada, fica claro que a terra que Thorfinn tanto almejava não era um lugar físico, mas sim um ideal, uma representação do que ele acreditava ser possível após uma vida de violência. Yukimura nos entrega um final que ecoa a mensagem de que a busca pela paz é um processo contínuo, não um passe de mágica. Thorfinn sai vitorioso não por ter encontrado a terra perfeita, mas por nunca ter abandonado seus princípios.

Vinland Saga Além do Mangá: O Anime e o Legado

Para quem ainda não se aventurou na saga de Thorfinn, uma ótima porta de entrada é o anime. A primeira temporada, produzida pelo WIT Studio (o mesmo de “Attack on Titan”), adapta o arco da Guerra de forma impecável. Já a segunda temporada, sob os cuidados do MAPPA (o estúdio de “Chainsaw Man” e “Jujutsu Kaisen”), nos leva ao arco do Escravo, explorando temas ainda mais profundos e complexos. Ambas as temporadas estão disponíveis na Crunchyroll e na Netflix, com legendas e dublagem em português. O Prime Video também oferece a primeira temporada em seu catálogo.

Vinland Saga pode ter chegado ao fim, mas seu legado certamente continuará inspirando e emocionando fãs por muitos anos. E que venham outras obras tão grandiosas e reflexivas como essa!