Denzel Washington e Spike Lee, uma das duplas mais icônicas do cinema, estão de volta com “Mais Alto 2 Mais Baixo”, uma reimaginação do clássico “Alto e Baixo”
Denzel Washington e Spike Lee, uma das duplas mais icônicas do cinema, estão de volta com “Mais Alto 2 Mais Baixo”, uma reimaginação do clássico “Alto e Baixo” de Akira Kurosawa. Mas será que essa nova colaboração consegue honrar o original e, ao mesmo tempo, trazer algo novo para a mesa? Como fã de ambos os artistas, confesso que estava ansiosa para ver essa mistura de bravata de Denzel com a visão única de Spike Lee. E, devo dizer, a atuação de Denzel é um dos pontos altos do filme, mostrando uma complexidade que não víamos há tempos.
Spike Lee não é estranho a Kurosawa. Já em “Clockers” (1995), ele se inspirou em “Céu e Inferno” (outro título essencial do mestre japonês). Em “Mais Alto 2 Mais Baixo”, ele pega a premissa original – um magnata rico confrontado com um dilema moral – e a filtra através das lentes da raça, da arte e do comércio. David King (Denzel Washington) não é apenas um empresário bem-sucedido; ele é um defensor da arte negra, que se vê dividido entre pagar um resgate e arriscar seu futuro financeiro, ou deixar o filho de seu amigo e motorista sofrer as consequências.
Denzel entrega uma performance que explora diferentes facetas da masculinidade negra. Ele consegue equilibrar a frieza calculista com momentos de vulnerabilidade, revelando as inseguranças e os dilemas morais de seu personagem. É como se ele estivesse canalizando seus papéis em “O Protetor” (The Equalizer) e “Um Limite Entre Nós” (Fences), mas com uma camada extra de complexidade. Particularmente, a cena em que David consulta fotos de seus ídolos artísticos em busca de conselhos é um dos momentos mais impactantes do filme, revelando sua fragilidade e sua luta interna.
A escolha de A$AP Rocky para interpretar o criminoso Yung foi ousada, mas funciona surpreendentemente bem. O confronto entre David e Yung é um dos pontos altos do filme, com um clima de tensão palpável. É fascinante ver Denzel “rimando” com tanta autoridade, mostrando que seu personagem não é apenas um magnata dos negócios, mas também um visionário com um profundo conhecimento da cultura hip-hop. Essa sequência me lembrou um pouco da energia caótica e imprevisível de “Oldboy” (o original coreano, claro!), com a música ditando o ritmo da ação.
“Mais Alto 2 Mais Baixo” pode não ser tão icônico quanto “Malcolm X” ou “A Última Noite” (25th Hour), mas ainda assim é um filme que vale a pena ser visto, especialmente para os fãs de Denzel Washington e Spike Lee. A química entre os dois é inegável, e a forma como eles abordam temas complexos como raça, classe e identidade é sempre instigante. É um filme que nos faz pensar sobre o papel da arte na sociedade e sobre os sacrifícios que estamos dispostos a fazer para preservar nossa cultura.
Se você é fã de filmes que te fazem pensar, com atuações memoráveis e uma direção ousada, “Mais Alto 2 Mais Baixo” é uma ótima pedida. Denzel Washington está no auge de sua forma, e Spike Lee continua a nos provocar com sua visão única e provocadora. Prepare-se para ser desafiado, emocionado e, acima de tudo, entretido. E quem sabe, talvez você saia do cinema com uma nova apreciação por Akira Kurosawa!
