Preparem seus coelhos brancos e cartas de baralho, porque vamos revisitar um clássico sombrio que talvez tenha florescido ainda mais em nossos tempos! Há 25 anos, a EA ousou nos apresentar a “American McGee’s Alice”, uma releitura gótica e perturbadora de “Alice no País das Maravilhas” que desafiou as convenções e nos mostrou que nem tudo no País das Maravilhas é chá e biscoitos. Será que essa pérola obscura teria se tornado um sucesso estrondoso se lançada hoje?
Um Conto de Fadas Gótico para Adultos
Lançado em 5 de dezembro de 2000, “American McGee’s Alice” marcou um território inexplorado para a EA: sua primeira classificação “M” (Mature) para maiores de 17 anos. O jogo nos apresenta uma Alice traumatizada, a única sobrevivente de um incêndio que devastou sua família. Anos após o evento trágico, internada em um hospício, ela é novamente convocada ao País das Maravilhas. Mas este não é o mundo mágico e vibrante que conhecemos. A influência da monstruosa Rainha de Copas transformou o lugar em um pesadelo distorcido.
Eu lembro de ter jogado na época e ficado impressionada com a atmosfera densa e sombria. Era como se Tim Burton tivesse invadido um videogame! A estética gótica, com personagens icônicos reimaginados de forma macabra, era algo que eu nunca tinha visto antes.
Jogabilidade Clássica, Visuais Inovadores
A jogabilidade em si seguia a fórmula de ação-aventura da época, com exploração, combate e puzzles. No entanto, o que realmente diferenciava “American McGee’s Alice” era seu visual arrebatador. O mundo do jogo era incrivelmente detalhado e a direção de arte era impecável. Cada canto do País das Maravilhas exalava uma atmosfera de perigo e insanidade.
Os designs dos personagens eram especialmente memoráveis. A própria Alice, com seu vestido azul esfarrapado e olhar perturbador, era uma anti-heroína cativante. O Chapeleiro Maluco, o Gato de Cheshire e a Rainha de Copas ganharam novas camadas de complexidade e bizarrice.
Precursor de uma Nova Era Sombria?
Apesar de não ter sido um sucesso comercial estrondoso, “American McGee’s Alice” conquistou um público fiel e se tornou um cult classic. Ao longo dos anos, vendeu mais de 1,5 milhão de cópias, um feito notável para um jogo tão peculiar. A popularidade do jogo despertou interesse em uma adaptação para o cinema, com o mestre do terror Wes Craven (de “A Hora do Pesadelo” e “Pânico”) envolvido no projeto em certo ponto (fonte: IMDB). Infelizmente, o filme nunca se concretizou, e a única sequência que tivemos foi “Alice: Madness Returns”, lançada em 2011.
Mas imagine só: e se “American McGee’s Alice” fosse lançado hoje? Em uma época em que releituras sombrias de contos de fadas e mitologias estão em alta, o jogo poderia ter alcançado um sucesso muito maior. “God of War” reimaginou a mitologia grega de forma brutal, e “Lies of P” transformou Pinóquio em um autômato sombrio. Séries como “Wandinha” exploram o lado macabro de suas histórias de origem de maneiras complexas. Nesse cenário, “American McGee’s Alice” teria um terreno muito mais fértil para florescer.
O Que Poderia Ter Sido… e Ainda Pode Ser?
Dez anos após o lançamento do jogo, a versão sombria de Tim Burton para “Alice no País das Maravilhas” se tornou um fenômeno de bilheteria para a Disney. Isso demonstra o apetite do público por narrativas mais adultas e sombrias. Com o poder gráfico dos consoles e PCs modernos, “American McGee’s Alice” poderia ter visuais ainda mais impressionantes e perturbadores.
Além disso, a narrativa poderia ter explorado temas como saúde mental e sanidade de forma mais profunda e matizada. Afinal, a forma como entendemos esses temas evoluiu muito nos últimos anos. “American McGee’s Alice” tinha um mundo rico e uma direção de arte impecável, mas faltava espaço e escopo para se tornar uma obra-prima. Quem sabe, em um futuro próximo, não tenhamos uma nova chance de explorar o País das Maravilhas sombrio de American McGee em toda sua glória?