Nos últimos dez anos, a A24 não apenas produziu filmes de terror, mas redefiniu o gênero, elevando-o a novas alturas de arte e terror psicológico. Afastando-se dos clichês de Hollywood, o estúdio nos presenteou com obras que são ao mesmo tempo inquietantes e profundamente reflexivas. Prepare-se para uma jornada pelos 10 filmes que provam que a A24 é a rainha do horror moderno!
10. ‘A Filha do Casaco Preto’ (2015): O Início da Lenda
“Estou apenas triste que você vai perder minha apresentação.” Ok, confesso que esse filme não é perfeito, mas “A Filha do Casaco Preto” foi crucial para solidificar a A24 como um nome sinônimo de horror atmosférico e cerebral. A trama, ambientada em um colégio católico durante as férias de inverno, acompanha duas estudantes (Emma Roberts e Kiernan Shipka) que começam a desmoronar sob uma presença invisível. A fotografia gélida espelha o isolamento das personagens, enquanto o terror rastejante se intensifica com uma paciência perturbadora. Oz Perkins evita sustos baratos, cultivando paranoia e mal-estar até que os elementos sobrenaturais se revelem por completo. É uma fusão impressionante de terror ocultista e trauma psicológico. Shipka, em particular, merece elogios por sua atuação contida, incorporando a possessão com uma sutileza assustadora em vez de um espetáculo exagerado. No geral, um filme sólido que espreme muito em 93 minutos enxutos.
9. ‘Está Atrás de Você’ (2017): O Medo do Desconhecido
“Eu vou tentar ajudar você e sua família.” “Está Atrás de Você” é um pesadelo claustrofóbico de paranoia e sobrevivência. Em um mundo pós-apocalíptico, duas famílias dividem uma casa isolada na floresta, tentando se proteger de uma doença misteriosa. O “isso” do título permanece ambíguo, mas o verdadeiro horror reside no medo humano, na suspeita e na quebra da confiança. O diretor Trey Edward Shults constrói o terror através da atmosfera e da sugestão, recusando-se a dar respostas fáceis ou monstros visíveis ao público. Os interiores mal iluminados, pontuados por lamparinas a óleo e longos silêncios, aumentam a tensão sufocante. São elementos minimalistas utilizados de forma econômica. Schults conta com a ajuda de um elenco disposto a tudo, que melhora significativamente o material. Joel Edgerton, Carmen Ejogo e Kelvin Harrison Jr. entregam performances poderosas, fundamentando a história no desespero humano. Anos depois, a visão do filme de um mundo tenso onde os fatos objetivos perdem todo o significado é agora desconfortavelmente familiar.
8. ‘X – A Marca da Morte’ (2022): Terror e Tesão na Roça
“Para viver uma vida de excessos, ser jovem e se divertir, até o dia em que morrermos.” “X” de Ti West é uma homenagem e reinvenção, um filme que ressuscita a estética corajosa e queimada de sol dos slashers dos anos 1970, enquanto a reveste com subtextos modernos. A trama gira em torno de um grupo de jovens cineastas que alugam uma casa de fazenda para filmar um filme adulto, que logo são vítimas de violência grotesca nas mãos de seus anfitriões idosos. Nesse sentido, “X” começa como uma brincadeira de gênero atrevida antes de se transformar em um caos total. O que o diferencia é sua mistura de sordidez, arte e metacommentário sobre idade, desejo e exploração. Uma parte fundamental desse sucesso é graças a Mia Goth. Sua atuação dupla como a jovem Maxine e a idosa Pearl é surpreendente, unindo o núcleo temático do filme: o terror do envelhecimento e a fome por vitalidade. Do lado estético, a construção paciente de West, a cinematografia elegante de neon e as explosões repentinas de brutalidade unem tudo.
7. ‘Saint Maud’ (2020): Fé Cega e Terror Psicológico
“Nunca desperdice sua dor.” “Saint Maud” de Rose Glass é uma descida perturbadora à mania religiosa e ao colapso psicológico, facilmente uma das melhores estreias de terror deste século. Morfydd Clark (da fama de “Anéis de Poder”) oferece uma atuação de força como a personagem-título, uma enfermeira de hospício profundamente devota que se torna obcecada em salvar a alma de sua paciente moribunda. Sua atuação é brilhante (muito melhor do que sua atuação como a guerreira élfica), alternando entre vulnerabilidade mansa e convicção aterrorizante. Do lado da narrativa, Glass enquadra o mundo pequeno e sombrio de Maud com precisão assustadora, misturando realismo com explosões calibradas de horror visionário. O poder aterrorizante do filme reside em sua ambiguidade: as experiências de Maud são revelações divinas ou as manifestações de uma doença mental não tratada? Pelo seu choque final, a resposta parece inevitável e devastadora. É um quadro final fenomenal, garantindo sozinho o lugar de “Saint Maud” no cânone do terror. Um lembrete de que os monstros mais assustadores muitas vezes habitam a mente. E talvez a alma.
6. ‘Green Room’ (2015): Punk Rock e Terror Neonazista
“Vocês não podem nos manter aqui, vocês têm que nos deixar ir.” “Green Room” é um thriller brutalmente eficiente que transforma um show de punk rock em um cerco sangrento. Quando uma banda testemunha acidentalmente um assassinato em um clube neonazista, eles ficam presos nos bastidores e são forçados a lutar por suas vidas contra uma gangue implacável liderada por um Patrick Stewart arrepiante. Em frente a ele, Anton Yelchin oferece uma de suas performances mais memoráveis como um herói relutante em cima da cabeça, enquanto Imogen Poots adiciona coragem e imprevisibilidade. O filme atinge duramente com seu realismo. A violência é confusa, desajeitada e dolorosamente crível, sem nenhum brilho da ação de Hollywood. Além disso, o diretor Jeremy Saulnier usa espaços confinados e gore chocante para manter o público no limite. Ainda assim, a maior parte da tensão vem do senso de desgraça e inevitabilidade, de probabilidades cruelmente empilhadas. Os personagens são em menor número, superados em armas e encurralados.
5. ‘Fale Comigo’ (2023): A Mão que Te Leva ao Além (e ao TikTok)
“A coisa da mão te assustou?” “Fale Comigo” de Danny e Michael Philippou foi outra estreia impressionante e enérgica que causou uma grande sensação. Nesta reinvenção surpreendente do horror de possessão, um grupo de adolescentes descobre uma mão de cerâmica que lhes permite se comunicar com os mortos. O que começa como um truque de festa se transforma em um pesadelo de vício, luto e fronteiras borradas entre os vivos e os mortos. É uma atualização inteligente dos tropos de terror sobrenatural para a era do TikTok. Os sustos são implacáveis, mas nunca baratos, combinando intensidade de esmagamento ósseo com ressonância emocional. Abaixo de sua premissa inventiva, reside uma história sobre luto, solidão e os perigos de buscar escapar nos lugares errados. Sophie Wilde oferece uma atuação inovadora como Mia, cujo desespero para contatar sua falecida mãe a leva por um caminho de autodestruição. Os diretores claramente têm mais de onde isso veio, já que seu esforço de segundo ano, “Bring Her Back” com Sally Hawkins, também é fantástico.
4. ‘O Farol’ (2019): Loucura em Preto e Branco
“Você gosta da minha lagosta, não é?” “O Farol” é pura loucura filmada em preto e branco. Essa obra de Robert Eggers mistura folclore marítimo com horror psicológico, construindo habilmente sobre a premissa estranha de dois faroleiros lentamente desvendando durante sua vigia isolada. Os monólogos salgados de lobo do mar de Willem Dafoe e a descida de Robert Pattinson ao delírio formam uma peça de câmara de dois homens de paranoia, violência e desejo reprimido. A estética complementa o assunto. Filmado em uma proporção quadrada com lentes vintage, o filme parece um artefato perdido retirado do passado do cinema. Eggers preenche cada quadro com atmosfera, as ondas batendo, o vento uivando e as gaivotas gritando se tornando personagens em si mesmos. Essa imagem surreal e de pesadelo permanece muito depois de ser vista, culminando em um final que parece mítico e grotesco. No final, o filme resiste à fácil categorização: é horror sobrenatural, mito ou colapso psicológico? A resposta é tudo o que foi dito. É o horror A24 no seu mais ousado.
3. ‘Midsommar’ (2019): Sol da Meia-Noite e Rituais Macabros
“Pensamos na vida como as estações.” “Midsommar” é um pesadelo ensolarado, um conto de terror folclórico que transforma o luto em ritual e a comunidade em culto. Nesse sentido, é um herdeiro digno de “O Homem de Palha”. No coração disso, Florence Pugh oferece uma performance definidora de carreira como Dani, uma jovem cambaleando de tragédia que se junta ao namorado e seus amigos em uma viagem para uma comuna sueca remota. Mas essa jornada cultural inocente se desenrola em horror ritualístico, à medida que o grupo fica preso em cerimônias que se tornam cada vez mais perturbadoras. O arco de Pugh, de forasteira devastada a rainha de maio coroada, é uma das transformações mais arrepiantes do horror. Através dela, o filme comenta sobre luto, relacionamentos tóxicos e o anseio humano por pertencimento, não importa o custo. Ari Aster lida com o material com precisão pictórica, usando a luz do dia e a beleza natural exuberante para criar terror sem sombras. O resultado é um horror visualmente deslumbrante, tematicamente rico e psicologicamente devastador.
2. ‘A Bruxa’ (2015): O Mal à Moda Antiga
“Black Phillip, eu te conjuro para falar comigo.” “A Bruxa” anunciou Eggers como uma nova voz ousada no horror e, uma década depois, envelheceu notavelmente bem. Ambientado na Nova Inglaterra dos anos 1630, o filme segue uma família puritana exilada no deserto, onde paranoia, superstição e mal sobrenatural convergem. Eggers fundamenta o horror na autenticidade histórica, usando naturalismo e linguagem precisa do período para imergir o público em um mundo onde o medo do Diabo era palpável. Os artistas também entregam. Anya Taylor-Joy, em seu papel de destaque, incorpora perfeitamente a tensão entre inocência e poder despertando. O filme constrói lentamente, criando mal-estar através do isolamento, paisagens sonoras assustadoras e sugestão rastejante, antes de culminar em uma das cenas finais mais icônicas do horror moderno: um convite sussurrado para “viver deliciosamente”. Nunca as cabras pareceram tão assustadoras. Tudo isso se soma a uma obra de horror folclórico e de alegoria feminista, explorando a repressão, a histeria religiosa e a libertação sem economizar nos sustos.
1. ‘Hereditário’ (2018): O Auge do Terror da A24
“Eu nunca quis ser sua mãe.” Apenas um filme iria reivindicar o primeiro lugar nesta lista. “Hereditário” é uma conquista imponente no horror moderno, tão realizado que até o próprio Ari Aster não o igualou desde então. Ao combinar horror magistral com drama crível, ele transformou uma tragédia familiar em um pesadelo sobrenatural. A história começa com luto e trauma e lentamente se transforma em terror ocultista, com Aster cuidadosamente sobrepondo o terror até o choque final. Existem inúmeros elementos fantásticos em oferta aqui, mas a arma secreta é Toni Collette. Ela oferece uma performance incrível (que realmente deveria ter sido indicada ao Oscar) como uma mãe enlutada cuja família entra em colapso após a morte de sua mãe secreta. Seu infame monólogo à mesa de jantar permanece uma das cenas mais poderosas da história do terror, um derramamento bruto de raiva e desespero. Apenas uma obra-prima absoluta em todos os sentidos, o ápice da A24.