Dez anos se passaram desde o lançamento de “Metal Gear Solid V: The Phantom Pain” (MGSV), e a sensação ainda é agridoce. Um jogo que, apesar de sua genialidade, carrega a marca de uma história inacabada. Não é sobre bugs ou features faltando, mas sim sobre a narrativa que abruptamente tenta amarrar pontas soltas, revelando um corte de conteúdo significativo. Para nós, fãs, fica a eterna pergunta: o que poderia ter sido?
A Tempestuosa Separação de Kojima e Konami
A produção de MGSV foi conturbada, marcando o fim da parceria entre Hideo Kojima e a Konami. Uma separação dramática que se desenrolou ao longo de um ano, repleta de rumores e poucas declarações oficiais. O resultado? Uma obra-prima em potencial comprometida e a reputação da Konami abalada. Quem diria que um jogo conseguiria gerar tanta polêmica nos bastidores?
A Ascensão e Queda de um Gênio Criativo
Em 2012, “The Phantom Pain” surgiu como um projeto misterioso da Moby Dick Games, mas os fãs logo sacaram que se tratava de um novo “Metal Gear Solid”. Meses depois, a confirmação veio, junto com o anúncio de “Ground Zeroes”, um prólogo ambicioso em mundo aberto. A Konami parecia apoiar a visão de Kojima, inclusive dando sinal verde para um novo “Silent Hill”, demonstrado pela demo “PT”. Era como se estivessem apostando todas as fichas no gênio criativo de Kojima.
O Início do Fim: Restruturação e Silêncio
A primavera de 2015 trouxe a estranheza. A Konami anunciou a data de lançamento de MGSV e, em seguida, uma reestruturação corporativa. O logo da Kojima Productions e o nome de Kojima foram removidos das capas de MGSV e até mesmo de “Ground Zeroes”. Para um autor como Kojima, cujos jogos carregavam a assinatura “A Hideo Kojima Game”, a atitude soou como um golpe. Os rumores de uma luta de poder entre Kojima e Konami começaram a circular, com relatos de que ele e sua equipe foram rebaixados a contratados e tiveram acesso restrito à internet e comunicação. A situação ficou tensa.
“PT” e “Silent Hills”: O Legado Apagado
Em maio, a Konami radicalizou: removeu “PT” da PlayStation Store e cancelou “Silent Hills”. Mesmo quem já possuía a demo não podia mais baixá-la. A empresa tentou apagar todos os vestígios do projeto de terror liderado por Kojima, frustrando os fãs. Era como se a Konami estivesse tentando reescrever a história, mas a internet nunca esquece.
O Lançamento e a Sensação de Incompleto
Agosto viu relatos de moral baixa na Kojima Productions, agora chamada de “Number 8 Production Department”. Câmeras monitoravam os funcionários, almoços prolongados eram punidos e o acesso à internet foi cortado. A equipe trabalhava em isolamento. Em setembro, o jogo foi lançado com aclamação da crítica, mas a sensação de que algo estava faltando persistia. Em dezembro, Kojima foi impedido pela Konami de comparecer ao The Game Awards para celebrar seu jogo. Bizarro, né?
O Que Aconteceu, Afinal?
As razões para a separação nunca foram totalmente esclarecidas, mas há pistas. A Konami estava mudando seu foco para jogos mobile, e Kojima não se encaixava nessa estratégia. Além disso, especula-se sobre disputas em relação ao orçamento de MGSV, que teria custado mais de US$ 80 milhões. Será que a Konami simplesmente impôs um prazo final e mandou Kojima entregar o jogo de qualquer jeito?
O Legado Incompleto de MGSV
MGSV foi lançado com uma história incompleta. Para amenizar, a edição de colecionador trazia um Blu-ray com um vídeo de 20 minutos sobre o “Episódio 51”, um nível cortado que mostraria Big Boss confrontando seu filho, Eli (Liquid Snake), e outros soldados mirins. O vídeo continha cenas inacabadas, artes conceituais e dublagens, mas foi descartado por falta de tempo. Acredita-se que esse não seja o único conteúdo cortado.
O segundo “capítulo” de MGSV reaproveita missões do primeiro, apenas com dificuldade aumentada. É como se a equipe tivesse recorrido a essa solução para preencher as lacunas deixadas pelos cortes. E lembram de “Ground Zeroes”? Kojima havia prometido que os jogadores poderiam visitar Camp Omega em “The Phantom Pain” e que haveria sinergia entre os dois jogos, com missões exclusivas. Mas nada disso se concretizou.
Há rumores de que MGSV teria um terceiro capítulo, chamado “Peace”, escondido no jogo. Alguns acreditam que seria apenas um título indicando o fim, enquanto outros pensam que seria desbloqueado com o desarmamento nuclear total no modo online. A verdade é que MGSV foi comprometido por um prazo que impediu Kojima de realizar sua visão completa.
O Brilho em Meio à Dor
Apesar de tudo, MGSV foi aclamado pela crítica e considerado um dos melhores jogos de ação já feitos, graças à sua jogabilidade refinada. Com a Konami revivendo a franquia “Metal Gear Solid”, será que veremos algum conteúdo restaurado em um futuro relançamento de MGSV? É improvável, já que Kojima não está mais envolvido. Resta-nos este jogo inacabado, com seu potencial não realizado.
A história de MGSV tinha ideias incríveis e temas profundos, o que torna sua incompletude ainda mais dolorosa. Estávamos tão perto de algo especial, mas fomos frustrados na reta final. Resta-nos imaginar o que poderia ter sido e lamentar o que perdemos.
O Futuro da Série Sem Kojima
Apesar de muitos acreditarem que “Metal Gear Solid 6” jamais acontecerá sem Hideo Kojima, a Konami detém os direitos da franquia e já produziu jogos da série sem ele, com resultados variados. Com o remake bem-sucedido de “Metal Gear Solid 3” e os planos de treinar novos desenvolvedores para criar mais jogos da série, é provável que “Metal Gear Solid” continue existindo de alguma forma.
Mas será que Hideo Kojima voltaria a trabalhar em “Metal Gear Solid”? Acho que não. Ele até riu da ideia de jogar o remake de “Metal Gear Solid 3” e tem seu próprio estúdio independente de sucesso. Além disso, ele já declarou que não pretende fazer “Death Stranding 3”, pois quer usar seu tempo para criar coisas novas. Se ele não quer continuar sua franquia mais recente, por que voltaria à mais antiga?
Em suma, há uma certa ironia em “Metal Gear Solid V: The Phantom Pain”. Um jogo sobre a dor de um membro fantasma tem sua própria dor fantasma com seu conteúdo cortado. É um toque de genialidade involuntário de Kojima e talvez uma de suas declarações artísticas mais profundas, mesmo que ele nunca tenha desejado que fosse assim.